Hellblade: Senua’s Sacrifice – Análise
Não faltam jogos que abordam as doenças mentais, o que é bom para que haja mais pessoas a falar de um inimigo que não pode ser derrotado com espadas e magia… mas e se fosse possível? Já entramos no campo da metáfora, mas em Hellblade: Senua’s Sacrifice é mesmo assim: a jornada da nossa heroína consiste em batalhas constantes contra os inimigos que vivem na sua cabeça. E lidar com transtornos do foro mental, sejam eles a depressão, a ansiedade, stress ou outros com tantos nomes é mesmo assim, uma caminhada custosa pela vida, onde tudo são sombras que nos querem mal, salvam-se algumas vozes, mãos e alívio.
Este texto não serve para dizer se Senua foi bem sucedido nessa sua mensagem, que foi, mas para o avaliar enquanto jogo. Se as suas poucas horas dão gosto e se valeu a espera de alguns anos até o apanharmos na Nintendo Switch? Sim, sem dúvida! Senua prende do início ao fim e vale bem a pena. Há aqui muitas coisas que deixam um jogador feliz: o universo mitológico, o combate, o ambiente visual e o som, sobretudo o som! Joguem com um sistema “surround” ou com auscultadores para perceber. A mitologia aqui presente, de inspiração nórdica, é fria, é cruel e as suas lendas são fantásticas. Para quem já ouviu Neil Gaiman a narrar o seu Norse Mythology, saborear o novo God of War e pegar em The Witcher 3, os nomes, lendas e situações de Senua são reconhecíveis.
A história de Senua é uma de luto, de raiva, de mágoa, mas também bela e com moral. Senua carrega a cabeça do seu amado até Helheim para lhe salvar a alma após ter sido sacrificado pelos invasores. Durante a jornada é guiada pelas vozes na sua cabeça, que acredita serem uma maldição, ao ponto de se ter exilado e foi nesse isolamento que encontrou o parceiro que lhe deu a mão. Existem outras, como a do narrador que vai partilhando o que conhece da cultura nórdica. Apesar de ser muito à base de ir do ponto A ao B, é muito mais do que isso, é uma auto-descoberta e uma oportunidade para a guerreira se aceitar.
Há que admitir que a exploração é limitada e embora jogos lineares não sejam um problema per se, há algo aqui que não faz clique. Caminhar com o único propósito de avançar na história, “puzzles” repetidos e falta de variedade – faz-se um, fazem-se todos. Não são maus, mas apenas estavam lá com o propósito de os jogadores terem algo para fazer, caso contrário estariam a ler um livro.
Na outra face da moeda, tem um belíssimo sistema de combate. É fluido, rápido, preciso, e cada botão cumpre o seu dever.
Podemos jogar Senua como se de um típico “hack and slash” se tratasse e martelar nos botões até à vitória, ou podemos usar a cabeça: pensar em golpes, pensar em desvios e aberturas e estoquear na altura certa. Temos ataques ligeiros, ataques mais pesados e um ataque secundário para desequilibrar o inimigo; também podemos correr para investir ou defender. Em certas ocasiões, é importante utilizar a habilidade de concentração da protagonista. Saber conjugar tudo é o melhor para sobreviver, principalmente quando as vagas de adversários começam a chegar. A câmara não atrapalha, está sempre focada no adversário principal e não é preciso ajustar o ecrã ou perder alguém de vista. E se acabarem por levar na cabeça, Senua começa a perder os sentidos e só recupera se premirmos os botões rapidamente. Se falharem, então morrem, correndo o risco de uma morte final se a escuridão consumir a personagem. É preciso perder muitas vezes para que isto aconteça, mas nunca fiando…
O jogo não tem uma HUD ou menus elaborados para nos explicar tudo e mais alguma coisa e é aqui que entra o departamento sonoro, porque estes pormenores estão a cargo das vozes que ouvimos durante a aventura. Pontos de interesse, dicas, alertas, ataques ou conversa fiada, ouvimos de tudo e com um bom sistema de som, elas virão de todo o lado. O génio disto é que são as vozes na cabeça da protagonista (e na nossa) que podem, ou não, ser reais.
Mesmo com uma produção humilde, a Ninja Theory não fez por menos e até caprichou no ambiente visual para que não faltasse nada. Certo que se trata de uma conversão para a Nintendo Switch e com as alterações que a configuração portátil implica, mas as interpretações e as expressões de Melina Juergens são de meter inveja a muito jogo com maiores valores de produção.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Enredo
- Combate
- Ambiente audiovisual
Pontos negativos
- Exploração
Tempo contado, demasiadas ocupações. Para aguentar uma crise de tenra idade, o André joga e escreve sobre jogos. É fã de RPG japoneses e de uma história de puxar à lágrima.
Já tinha curiosidade de ver este jogo na Switch, e parece que valeu a pena esperar 🙂
O documentário em si deve fazer valer a pena uma segunda volta! Interessante as ramificações que este título criou na indústria.