Story of Seasons: Friends of Mineral Town – Análise
Quando esta obra foi anunciada para o mercado japonês eu e muitos fãs entrámos em êxtase pelo regresso (ainda que sob forma de “remake”) de um dos títulos mais adorados da série Harvest Moon. No entanto, e para confusão de muitos outros, devido a litígios entre a Natsume e a Marvelous, o título do jogo fora do Japão foi alterado para Story of Seasons. Para esclarecer qualquer equívoco, basta ter presente que os responsáveis por Story of Seasons também estão por trás dos antigos títulos da série Harvest Moon e que os novos, a partir de sensivelmente 2014, são obras da Natsume (como por exemplo o horripilante Harvest Moon: Mad Dash). Felizmente será já no dia 10 de julho que Friends of Mineral Town abandona a sua exclusividade nipónica e se torna acessível a todos os amantes de uma vida descontraída a cuidar de colheitas, animais e relações interpessoais.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town revisita o antigo Harvest Moon com o mesmo sub-título que se encontra no Game Boy Advance. Facto curioso é esse jogo ser também algo como um “remake” de Harvest Moon: Back To Nature para a PlayStation. Fora essa pequena trivialidade, e quando surgiram as primeiras críticas do jogo na portátil da Nintendo, Friends of Mineral Town foi considerado como um bom representante do espírito de Harvest Moon, uma experiência que tem tanto de divertido como viciante. Será que esta reencarnação na Nintendo Switch consegue repetir o mesmo feito? Só descobrirão a resposta se não prorrogarem a vossa leitura, caros aspirantes a agricultor.
A primeira mudança reflete-se com o início da história neste novo imaginar. Story of Seasons: Friends of Mineral Town introduz um rapaz ou rapariga, personalizado pelo jogador, cujos pais privaram de umas férias mais entusiasmantes. Para colmatar o tédio esmagador sentido por uma criança citadina, os responsáveis pela sua guarda deixam essa responsabilidade com o avô, dono de uma quinta repleta de animais e outros tantos tais situados na cidadezinha de Mineral Town. Lá a diversão é mais que muita, desde andar a cavalo até perseguir (ou ser perseguido) por galinhas. Mas tudo tem um fim, e a personagem principal é obrigada a voltar para casa. Vinte anos depois recebe uma carta do presidente da câmara de Mineral Town a informar que o avô deixou a quinta em seu nome. Com esta notícia o protagonista parte rumo à quinta do avô, e assim começa a aventura.
Logo na manhã seguinte e assim que coloca o pé fora de casa, todo o processo de decisão está a nosso cargo. Seja cuidar de uma dúzia de nabos ou falar com os aldeões, rapidamente se encontra uma rotina adequada às tarefas, e aí começa o engenho viciante num sistema que vive à volta da rotina, como também se observa em Animal Crossing ou Stardew Valley. Numa altura em que a oferta é tanta e tão variada, talvez já não seja fácil recomendar Story of Seasons a pés juntos pela sua jogabilidade relaxante. No entanto, dentro deste ecossistema de entretenimento à volta da agricultura, a sua fórmula continua a ser uma das melhores e mais dignas de sugestão.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town é uma amálgama de conceitos sobejamente conhecidos. Para além do chamariz principal de plantar umas belas batatas num solarengo dia de primavera, encontram-se características com origem em RPGs, como subir o nível das ferramentas, e também dos populares “dating sims” românticos. Estas características, que funcionam em uníssono, agarram a atenção por várias horas seguidas. Mas não é só isto que torna Mineral Town tão especial. Cada aldeão tem uma personalidade própria e uma história por contar, um pequeno novelo prestes a desenrolar-se mediante as nossas ações. O pormenor das vidas dos aldeões só é conhecido quanto mais afeto eles receberem do jogador, seja através de presentes ou de simples conversas de circunstância.
Mas esta cidade mineral, conhecida por duas cavernas repletas de minério nos arredores, tem muito mais que se lhe diga. Ao longo das quatro estações do ano encontram-se eventos que servem de distração para a rotina do quotidiano. Corridas de cavalos, lutas de galinhas e até concursos de comida deliciam a vida pacata e um pouco monótona dos seus habitantes. Estas ocorrências (de participação opcional) duram um dia inteiro e são uma ótima oportunidade para distrair da repetição que governa a vida de um agricultor, assim como participar nas festividades e quiçá colher algum prémio pelo meio. Inerentes a cada personagem estão também datas de aniversário, excelentes oportunidades para subir bastantes pontos na sua consideração com alguma oferta. Mineral Town é também uma cidade com vida não fosse, por exemplo, durante uma específica estação do ano a chegada de uma personagem que visita a cidade como comerciante de comes e bebes próprios da época. Um outro indivíduo recém-chegado, por exemplo, vive sob o eterno dilema do seu propósito na cidade e eventualmente por via das circunstâncias, temos poder de decisão sobre o seu futuro. São estas pequenas coisas que dão cor e alegria à cidade onde todos coabitam e tornam a passagem do tempo mais agradável, apesar da rotina.
Claro está que devido à tradição inerente à série, o grosso da jogabilidade está intrinsecamente relacionado com o cuidar da quinta, atividade onde se dispende grande parte da manhã, tarde ou noite. No início a rotina é um assunto mais irregular devido à ausência de dinheiro, mas assim que o galinheiro fica cheio e o celeiro cheio fica, o processo assenta e a repetição instala-se. No entanto e ao contrário do jogo original (devido às limitações da plataforma) a variedade de animais por cuidar aqui presente é bem visível: galinhas, coelhos, alpacas, cavalos, cães e até subespécies de vacas que produzem leite de café! A própria quinta de que aceitamos cuidar pode ser alvo de melhorias, caso exista matéria-prima suficiente para esse efeito. Aumentar o tamanho da casa ou plantar árvores de outros frutos são apenas algumas das opções disponíveis num jogo que já tem tanto por fazer.
Fora isto, outra das tarefas mais recompensadoras é plantar sementes variadas pelo terreno fértil que o querido avô deixou. Após um processo simples de três passos com enxada, sementes e regador, a mãe natureza dá frutos prontos a colher e a serem comercializados numa caixa própria para transporte. Todos os dias, fora feriados, aparece um senhor às cinco horas da tarde com o intuito de recolher o que lá deixámos. É desta forma que gerimos as nossas poupanças e começamos a pensar em como rentabilizar o próximo dia de trabalho. No entanto, existirão dias em que a rotina se altera um pouco, frequentemente por culpa de eventos na cidade ou alterações atmosféricas. Afinal de contas, para quê passar uma manhã a regar pepinos ou tomates se está a chover? Aí podemos perder o dia a escacar pedra numa das minas para mais tarde vender o que conseguimos recolher, ou bater com o machado nos vários tocos da província. Podemos igualmente dar uma volta pela cidade e ser o bicho social que realmente ambicionamos ser.
É nesta etapa que outra das mecânicas mais interessantes de Friends of Mineral Town entra em jogo. Todos os dias é possível atribuir um presente a alguém, iniciar uma conversa ou testemunhar um evento. Sob força da repetição e para além de uma grande amizade, poderão conquistar um esposo ou uma esposa, independentemente do sexo escolhido no início, para partilhar casa e até criar uma criança. No entanto, esta espécie de Quem Quer Namorar com o Agricultor é uma coisa muito simplificada e encantadora. Afinal de contas neste jogo, ao contrário da vida real, consegui conquistar uma rapariga por não só visualizar todos as sequências cinemáticas disponíveis com ela, mas também por lhe oferecer ovo cozido todos os dias durante dois anos. Ridículo? Sim. Satisfatório? Imenso. Há toda uma simplicidade inerente nas mecânicas de Story of Seasons: Friends of Mineral Town que é igualmente simples mas também satisfatória e divertida.
Após todos estes parágrafos e algumas valentes horas de jogo, é com alguma certeza que afirmo existirem várias razões para adorar um jogo em que sucessos como Stardew Valley se inspiraram. Nesta reconstrução, porém, existem outros motivos para antigos fãs da série (como eu) voltarem a embarcar numa aventura conhecida. O primeiro, talvez a maior falha do original, é a tradução, que aqui se encontra bem feita e sem erros inúmeros. Duas novas personagens, Jennifer e Brandon, mostram-se disponíveis perante os nossos avanços românticos. A capacidade para salvaguardar o nosso registo aumentou para oito, assim como a possibilidade de o fazer em qualquer sítio do mapa. Existe na realidade uma mão cheia de novidades (facilmente mais dois ou três parágrafos de texto), que transformam uma experiência conhecida em algo novo e fresco, e Story of Seasons: Friends of Mineral Town só tem a ganhar com isso. Fora um evento repetitivo e uma ou outra mecânica que poderia ser melhorada, não existem queixas a apontar. Talvez a única é que esta reconstrução não procura trazer nada de novo a uma fórmula que já existe desde a sua estreia no Game Boy Advance.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Jogabilidade acessível, simples, divertida e viciante
- Vários eventos pessoais e festivos na cidade
- Habitantes de Mineral Town
Pontos negativos
- Sem queixas a apontar
Analisar um videojogo é como uma experiência gastronómica: pode correr muito bem, muito mal ou não correr de todo. Pelo menos é o que este membro da equipa acredita. No entanto, nunca deixará que a sua fome altere os critérios de análise. Pelo menos não muito.
Um remake bastante bom, também ajuda que o original já era de qualidade, mas nota-se o quanto a equipa original ainda se interessa com a propriedade comaprada à Natsume.