Ultracore – Análise
O que temos aqui é um jogo com uma história muito particular – e não, não é pelo enredo. Originalmente desenvolvido pelo estúdio Digital Illusions, Ultracore deveria ter chegado ao mercado em 1994 para os formatos Amiga, Mega Drive e Mega CD sob o título Hardcore mas a editora (uma tal de Psygnosis) cancelou o projeto à ultima da hora, apesar do desenvolvimento estar praticamente terminado. Durante todo este tempo o jogo ficou em hibernação e sem qualquer forma de ver a luz do dia, até que a Strictly Limited Games pegou nele e decidiu acabá-lo de uma vez por todas. Ultracore foi finalmente lançado em março de 2019, parte do catálogo de uma réplica da Mega Drive chamada Mega Sg, desenvolvida pela popular Analogue.
Agora que o jogo se encontra disponível nas consolas contemporâneas podemos ver se ainda vale a pena pegar nele… e a resposta é sim. Apesar de não ser particularmente original ou revolucionário, Ultracore é um jogo de ação de qualidade que evoca a era 16-bit, onde nomes como Contra e Gunstar Heroes eram adorados. É um jogo curto com poucos níveis e que se pode passar em cerca de duas ou três horas mas a campanha é divertida e o ritmo do jogo só melhora graças à duração. Tem os seus problemas, e muitos deles são devido a ser um jogo de 1994 adaptado a um formato atual mas Ultracore é divertido, especialmente para quem cresceu a jogar obras semelhantes.
A premissa de Ultracore é do mais simples que se possa imaginar mas serve perfeitamente para o jogo que é. O jogador controla um soldado poderoso com a missão de impedir um antagonista misterioso chamado Vance que quer usar o seu exército de máquinas para destruir o planeta do protagonista. Não é preciso mais nada, só um motivo para arrancar os eventos do jogo e dar algum contexto. São muitos poucos os momentos onde o jogador fala com sobreviventes ou observa algo que sirva de pista para avançar. O ambiente visual é o que se esperaria – Ultracore é sem qualquer dúvida um jogo com o aspeto de uma obra dos anos 90. A animação do protagonista e das armas e inimigos é o mais apelativo, e embora os cenários apresentem um nível de pormenor razoável, falta-lhes alguma variedade. Todos os níveis têm as mesmas cores, com algumas diferenças no meio, e podem muito facilmente ser confundidos com uma continuação do nível anterior em vez de um nível novo. Os itens também mal representam a função que cumprem, nomeadamente as munições, mas no geral o ambiente visual é competente e transmite uma sensação de nostalgia. O mesmo se pode dizer da música, claramente evocativa da sonoridade que se ouve na Mega Drive, e encaixa perfeitamente na apresentação do jogo, peca apenas pelas melodias pouco memoráveis e que não contribuem para dar maior impacto aos eventos.
Onde estes jogos mais se destacam é na experiência cheia de ação e adrenalina e felizmente, esse é o ponto forte de Ultracore. O objetivo é tão simples como destruir tudo em todos os níveis, mas o jogo inclui mecânicas e elementos que tornam a experiência mais envolvente. Parte-se com uma arma simples e de munições infinitas mas ao explorar os níveis encontram-se outras armas e respetivas melhorias. Muitos jogos semelhantes não acertam bem no alvo no que diz respeito a criar armas úteis em todo o tipo de situações mas o arsenal disponível em Ultracore é bastante bom. Todas as armas adicionais requerem munições, o que obriga a ter cuidado na maneira como se usam. O esquema de controlos é surpreendentemente bom e nota-se que tirou partido de noções e ideias contemporâneas em vez de transpor um esquema com mais de vinte e cinco anos para uma plataforma atual. Embora não tenha qualquer opção de esquema de controlos, o “Pro Controller” da Nintendo Switch concede um grau de liberdade bastante satisfatório no que diz respeito a disparar e saltar. Melhor ainda, é possível usar os dois analógicos para mover a personagem e para controlar a direção dos disparos. Usar os analógicos juntamente com os botões R, L, ZR e ZL resulta lindamente e é recomendado a quem esteja habituado a jogos atuais que utilize esta disposição, muito mais intuitiva. Infelizmente não existe um tutorial para ajudar o jogador a aprender logo de início.
O jogo começa a exibir alguns problemas no que diz respeito ao desenho dos níveis. Ultracore exige que o jogador percorra os níveis como se de um “metroidvania” se tratasse, com vários caminhos alternativos para poder abrir percursos noutros pontos do nível. Está bem feito no sentido em que motiva o jogador a observar cuidadosamente o que o rodeia, mas precisava de mais tempo para apurar alguns elementos claramente mal feitos. Ultracore não ensina o jogador a interagir com o nível, como acontece nas minas num dos primeiros níveis em que o jogador descobre-as sem saber ao certo o que são, e só depois encontra uma alavanca que as desativa. É muito fácil assumir que são um simples obstáculo que é preciso ultrapassar à força e seria muito mais útil se o jogo ensinasse, num ambiente seguro, como funcionam. O pior são mesmo os segmentos de plataformas, que são simplesmente horríveis. A grande maioria tem algum tipo de penhasco ou superfície que mata o jogador ao toque, o que os torna demasiado punitivos. É muito fácil perder imensas vidas numa parte onde o único objetivo é saltar para uma plataforma superior, o que pode muito bem dar cabo do divertimento. Por outro lado, Ultracore é muito mais simpático a reposicionar o jogador após uma morte. Ao contrário de muitos jogos semlhantes, Ultracore mete o jogador praticamente no mesmo sítio em que morreu. Por vezes fá-lo demasiado perto, em cima do mesmo monte de inimigos que o matou ou entre dois obstáculos que o podem matar novamente, mas geralmente o jogo faz isto bastante bem e resulta num ritmo de jogo bastante fluido e agradável. Isto acaba por realçar outro problema: o sistema de “passwords”. Claro que este sistema era comum na altura, mesmo quando muitos jogos já tinham um sistema de salvaguarda, e Ultracore pretende ser uma conversão de um jogo originalmente desenvolvido para chegar ao mecado em 1994… mas a opção de um sistema de salvaguarda teria facilitado muito mais a experiência. O jogo tem vários parâmetros como munições, número de vidas e armas, mais as suas melhorias, o que leva a que a “password” seja algo longa.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Controlos fluidos e intuitivos
- Variedade de armas úteis
- Desenho de níveis recompensa a exploração…
Pontos negativos
- …mas apresenta segmentos de plataformas mal feitos
- Falta de um sistema de salvaguarda
Eu sou um amante de videojogos, que adora falar sobre o que faz um videojogo bom ou mau. Mas acima de tudo adoro entreter pessoas e fazê-las rir, por isso decidi dedicar-me a criar um canal onde posso por em prática duas das coisas que mais amo fazer.