void tRrLM(); //Void Terrarium – Análise
Este concorrente muito provável ao prémio de jogo com o título mais estranho de 2020 é uma experiência um pouco diferente dentro do estilo “Mystery Dungeon” dos “Roguelikes”, assim cunhado em homenagem à série Shiren the Wanderer que remonta à década de 1990. Relembro também que a visibilidade deste tipo de jogo alcançou a estratosfera graças a um “spin-off” de uma série amplamente conhecida como Pokémon Mystery Dungeon em 2005. Desde então que a fórmula raramente mudou: controlamos uma personagem que começa no nível um, tentamos progredir o máximo possível dentro de uma masmorra e se morrermos, tudo o que transportamos sofre uma consequência qualquer. Em Void Terrarium a ordem natural das coisas é um pouco diferente.
Esta diferença inicia-se logo pela sua apresentação distópica do enredo: um futuro distante onde grande parte da humanidade foi dizimada por um fungo parasitário e outra por uma inteligência artificial. Nós controlamos a personagem principal Robbie, um robô reativado recentemente, sem memória do que aconteceu até então e que após caminhar um pouco, é confrontado com uma criança humana adormecida num terrário e a mencionada inteligência artificial. Robbie e a inteligência artificial decidem cuidar do que aparenta ser a última réstia da raça humana. Quem, como e porquê são as questões que motivam e impulsionam o enredo, apesar do carisma estar todo na dinâmica deste trio. Dizer mais seria estragar a surpresa da história que infelizmente, mesmo após umas curtas vinte horas de conteúdo, deixa no ar à interpretação do jogador alguns fios narrativos que precisam de resposta.
O outro elemento que diferencia esta aposta dos seus pares é a jogabilidade. Apesar de brincar muito com a fórmula conhecida, o que em parte leva o jogador para um terreno familiar, o jogo dá rapidamente uma volta de cento e oitenta graus e prega uma partida. Regra geral, somos penalizados por sofrer KO a meio de uma masmorra, mas Void Terrarium incentiva esse desfecho devido a um sistema “à la” Tamagotchi com o estado em tempo real da criança. Após ativar a função de autodestruição de Robbie para voltar ao núcleo central do enredo, o jogo transforma tudo o que foi apanhado até ao momento em matéria-prima, o que ajuda a cuidar da criança. Pode parecer um pouco frustrante porque o nosso intuito é começar do início com vista ao fim, e Void Terrarium não tem problema absolutamente nenhum em quebrar esse ciclo várias vezes, mas após criar um hábito à volta disso o engenho até é bem-vindo. Contudo é muito compreensível que esta cadência anti-natura e repetitiva irrite mais pessoas do que deveria.
O resto da experiência no que diz respeito a Robbie é típico de um “Mystery Dungeon”, mas com algumas alterações para acomodar o sistema acima mencionado. No início de cada masmorra aleatória, repleta de inimigos e itens igualmente aleatórios, Robbie começa sempre no nível um, e após cada subida de nível é dada a escolha entre duas melhorias: maior capacidade de evitar um ataque ou maior poder de ataque, por exemplo. No entanto, apesar deste ciclo se reiniciar sempre que Robbie é destruído, existem melhorias passivas e permanentes dentro de Void Terrarium que facilitam a nossa vida. A questão aqui é que para obter essas melhorias, muitas serão as viagens na esperança que uma delas renda os recursos necessários para avançar. É repetitivo e amarra o avanço por detrás de uma barreira que funciona mais à base da sorte do que habilidade.
O outro aspeto da jogabilidade, e aquele que mais divertido é dado que joga com todos os sistemas presentes de Void Terrarium, é cuidar da criança. Toriko, assim é o seu nome, vive num pequeno terrário e precisa da ajuda de Robbie para sobreviver. Cada ida a uma masmorra acarreta a possibilidade de trazer para casa recursos suficientes para construir mobília, comida ou até brinquedos para Toriko. São estes comportamentos que, por algum motivo, melhoram as anteriormente referidas capacidades de Robbie passivamente. Parte da diversão é também ter ampla liberdade para decorar o espaço de Toriko. Refletindo no assunto é até curioso pensar em como esta mecânica, este Tamagotchi humano, é a única luz ao fundo do túnel num mundo que por si só já é suficientemente sombrio. São as pequenas trocas entre o trio que recompensam o jogador a cada canto.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- História pós-apocalíptica
- Apresentação visual e sonora
- Sistema "à la" Tamagotchi
Pontos negativos
- Alguns fios narrativos insatisfatórios
- Repetitividade imposta numa mecânica já frustrante
Analisar um videojogo é como uma experiência gastronómica: pode correr muito bem, muito mal ou não correr de todo. Pelo menos é o que este membro da equipa acredita. No entanto, nunca deixará que a sua fome altere os critérios de análise. Pelo menos não muito.