Chicken Police – Paint it RED! – Análise
Outrora uma cidade fervilhante, Clawville é agora uma urbe doente, a transbordar de corrupção e de ódio que acabarão por consumir todos os seres vivos que nela residem. Isso seria um problema para Sonny Featherland, da dupla policial mais conhecida da cidade. Mas tendo a sua reforma em vista, as condições externas pouco importam a este detetive em contagem decrescente para o ocaso da sua carreira. O que Sonny não sabe é que nada voltará a ser o mesmo na noite de véspera de ano novo, 122 dias antes da sua reforma.
A aventura desenrola-se sobretudo através de diálogos ou de exposição da nossa personagem aos eventos à medida que exploramos Clawville e interagimos com cidadãos das mais variadas espécies do reino animal. Seja no decorrer de uma investigação ou numa conversa simples com um conhecido de longa data, a qualidade da escrita salta à vista, carregada de elementos de humor e sarcasmo que vão deliciar qualquer fã de mistérios e “thrillers”. Para além disso, as vocalizações das personagens são muito competentes, fazendo realçar as personalidades distintas que se encontram ao desbravar o mundo antropomórfico de Chicken Police.
Começando pela maior fatia do jogo, os diálogos: entre estes encontram-se interações simples com transeuntes onde nos são apresentadas informações sobre o mundo, um ou outro acontecimento ou personagem, bem como interrogatórios fundamentais ao avanço da história. Estes consistem em rondas de perguntas colocadas ao suspeito, que podem (ou não) afetar as respostas que vamos receber, dependendo da direção seguida durante o interrogatório. Consoante os traços de personalidade do nosso alvo, uma escolha errada de perguntas fará com que a nossa prestação durante o interrogatório diminua. Não existem, contudo, consequências pesadas nesses casos, além de precisarmos de tentar outra vez. Um sistema mais dinâmico que possibilitasse um maior grau de imprevisibilidade no enredo ou na forma com o jogador o aborda encaixaria muito melhor num jogo com esta temática.
As investigações e sequências de ação compõem o resto da experiência, e embora ambas as componentes sejam executadas de forma competente, não lhes foi dedicada tanta atenção como às outras partes do jogo. Ouvir os monólogos de Sonny enquanto vasculhamos cenários e locais de crime é sempre divertido, mas um maior grau de interatividade ou desafio nestas secções seria bem-vindo. No decorrer do jogo há apenas duas localizações com “puzzles” para resolver e coincidência ou não, são dois dos momentos mais divertidos de Chicken Police. As sequências de ação são parcas, resumem-se a duas perseguições de veículos onde vamos ter de disparar contra inimigos. A sua execução deixa muito a desejar e constituem momentos bastante aborrecidos, mesmo que a sua inclusão fosse bem-vinda noutros moldes, o que tornaria esta uma produção muito mais versátil que a típica aventura “point and click”.
Ao contrário do que se disse nos pontos anteriores e tal como acontece com a escrita, a apresentação de Chicken Police é imaculada, com o seu tom “noir” a assentar que nem uma luva no mundo decrépito que tenta ilustrar. A adoção de um estilo realista em vez de estilizado foi igualmente um bom toque, legitimando e acentuando as realidades deste mesmo mundo: violento, desigual e impiedoso.
Não se trata de uma aventura particularmente longa. Mesmo acabando por se desenvolver de forma bastante previsível, o protagonista, as demais personagens e a forma como a trama se compõe em torno de todas elas é mais que suficiente para manter o jogador agarrado de início ao fim. É uma história que não coloca tanta importância no “whodunnit”, mas sim de que forma, porquê e em que circunstâncias, o que acaba por resultar largamente a seu favor.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Escrita sublime
- Mundo complexo e cativante
- Apresentação impecável
- Vocalizações de qualidade
Pontos negativos
- Sequências de ação pobres
- Poucos "puzzles"
- Nível baixo de desafio
Insiste diariamente na superioridade da série Metroid Prime. Habitualmente ocupado a salvar o mundo de mais um deus irado, pausando ocasionalmente para redigir a sua próxima crónica.