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Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed – Análise

Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed é um jogo cuja existência é capaz de deixar qualquer um perplexo. Tratando-se de um “remaster” de Akiba’s Trip, o primeiro jogo da série e até então exclusivo do mercado japonês, constitui hoje a terceira entrada da série no Ocidente, depois de Akiba’s Trip: Undead & Undressed e Akiba’s Beat. Datado em virtualmente todas as suas vertentes, seria difícil esperar outra coisa de um jogo que chega até nós com uma década de atraso.

A aventura começa com uma exposição de informação sobre uma investigação por parte do protagonista para descobrir o que aconteceu ao seu amigo desaparecido, cujo último paradeiro foi a zona de Akihabara em Tóquio. Um confronto inesperado comprometeu a sua vida, salva por uma jovem misteriosa que desencadeia uma série de acontecimentos que trazem à baila a sobrevivência da raça humana e uma quantidade absurda de “striptease” aleatório. Resumidamente, há uma epidemia de “Shadow Souls” em Akihabara, vampiros que por algum motivo impossível de descortinar são tão ativos durante o dia como durante noite. Cabe ao protagonista, recrutado pela organização governamental NIRO, pôr fim ao terrorismo das criaturas, que se traduz na transformação das suas vítimas em reclusos sociais, por razões igualmente desconhecidas. Qual é a melhor arma contra estes inimigos? Luz solar, como dita o senso comum, mas não é assim tão fácil. Ao que parece, os vampiros só são eliminados pelo sol caso estejam despidos – esta é, pelo menos em teoria, uma das razões para poderem rumar pelas ruas durante o dia sem problemas. A solução passa então por retirar-lhes as roupas em combate corpo-a-corpo, como não poderia deixar de ser.

É inegável que Hellbound & Debriefed pretende ser um jogo cómico e com ênfase na cultura “otaku” e estereótipos associados, ainda para mais tendo em conta a sua premissa-base de retirar a roupa aos inimigos. O problema é que não há nada de divertido no combate, e por acréscimo na estrutura geral do jogo, composta por missões que andam em torno deste mesmo combate. Há três botões de ataque diferentes, cada um com a função de atacar uma parte diferente do corpo, possibilitando que a peça de roupa correspondente seja retirada. É simples e poderia funcionar bem se fosse particularmente divertido ver estes combates em movimento, mas não é isso que acontece. Os confrontos são aborrecidos, com pouco impacto visual, e pouco diversificados nos tipos de inimigos. Mesmo as técnicas adicionais, que podem ser adquiridas em lojas da cidade, pouco fazem para mudar a experiência de jogo, esta acaba sempre por resumir-se a carregar nos botões de forma arbitrária. A falta de uma forma de nos fixarmos no inimigo e de indicações sobre o efeito dos danos causados também prejudicam a jogabilidade.

O enredo não se desenrola de forma muito melhor, recheado de clichês e eventos que podemos observar em pilhas de animações e jogos para o mesmo público, e o facto de se tratar de um jogo feito há uma década não lhe faz favores nenhuns neste aspeto. Mesmo assim, encontram-se alguns momentos engraçados, como a apresentação da personagem Master e certos diálogos entre personagens. Uma grande parte dos diálogos é vocalizada mas existem algumas inconsistências na qualidade das vozes de certas personagens, o que torna algumas interações um pouco dissonantes face ao resto do jogo. Visualmente trata-se de um jogo muito fraco. Alguns dos modelos tridimensionais têm uma resolução mais alta face ao original mas pouco mais foi feito neste campo. Os cenários são estéreis, muitas das texturas são definidas por uma mistura caótica de baixa resolução. Os efeitos sonoros são igualmente banais e pouco variados, mas em parte compensados pela banda sonora, composta maioritariamente por composições de rock frenéticas que transmitem vida necessária ao combate.

Não surpreende dizer que Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed não é um jogo para toda a gente, mas existe realmente um público-alvo para uma produção como esta? Embora seja possível aferir exatamente o que esperam as pessoas envolvidas neste jogo, é igualmente complicado de imaginar que tipo de jogador poderia pôr de lado a quantidade avultada de problemas aqui presentes para poder vivenciar a parte ínfima do que aqui se pode considerar “bom”. Era imperativo realizar um “remaster” de um jogo com dez anos de forma tão preguiçosa e descuidada? Não havia nenhuma alternativa mais apelativa onde investir recursos? É difícil aceitar que assim seja.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
3 10 0 1
Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed é um jogo que não devia existir, fruto de uma falta de criatividade e empenho por parte de uma indústria que muitas vezes teima em deixar produções onde realmente pertencem: no passado.
Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed é um jogo que não devia existir, fruto de uma falta de criatividade e empenho por parte de uma indústria que muitas vezes teima em deixar produções onde realmente pertencem: no passado.
3/10
Total Score

Pontos positivos

  • Conceito único
  • Momentos cómicos ao longo do enredo

Pontos negativos

  • Combate simplista e descuidado
  • Missões repetitivas
  • Visualmente fraco
  • Vocalizações inconsistentes

Diogo Caeiro

Insiste diariamente na superioridade da série Metroid Prime. Habitualmente ocupado a salvar o mundo de mais um deus irado, pausando ocasionalmente para redigir a sua próxima crónica.