Oxenfree II: Lost Signals – Análise
Jogos que assentam em experiências puramente narrativas já são lugar-comum nesta indústria. Oxenfree II: Lost Signals, desenvolvido pela Night School Studio e distribuído pela Netflix Games, é mais uma obra que encaixa nestes moldes de experiência narrativa, e que chegou recentemente a todas as consolas da geração atual. Com poucos projetos no seu reportório, a criadora desta sequela (o original data de 2016) aposta num valor de produção alto face ao que se entende por um jogo “indie”, visualmente apelativo e com os diálogos quase todos vocalizados, entre outros elementos de destaque. Mesmo tratando-se de uma sequela, Oxenfree II pode ser jogado por si só e sem contacto com o original.
De que nos fala então Oxenfree II? A ação decorre na cidade de Camena Coast, onde Riley (a protagonista que controlamos durante toda a jornada) é enviada para estudar fenómenos invulgares que assombram o local sob a forma de anomalias nas frequências de rádio. Aquele que era inicialmente um trabalho banal ao abrigo de uma organização ambiental, torna-se, rapidamente, numa viagem transcendente pelo sobrenatural e mistério, beirando por vezes uma influência de H.P. Lovecraft. Apesar de contarmos com um mapa de toda a região que pode ser consultado a qualquer momento, passamos grande parte do tempo a explorar o desconhecido numa não tão convidativa cidade soturna. Evelyn, a supervisora de Riley, é uma companhia permanente na aventura através do “walkie-talkie”, um dos objetos que vamos utilizar nesta experiência. Evelyn dá algum contexto e informações sempre que o enredo assim o exigir, para além de a podermos contactar se perdermos o rumo.
Com Riley podemos andar livremente pela cidade e executar algumas técnicas de escalada, mas fica tudo por aí. Como não existem inimigos propriamente ditos, não há sistema de combate, e até os objetos que encontramos são todos à base de cartas e manuscritos com o único propósito de serem lidos para dar algum contexto sobre o passado das personagens e pouco mais. Isto para dizer que Oxenfree II embora rico do ponto de vista do enredo, é bastante monótono na jogabilidade: 90% daquilo que é aqui feito resume-se a percorrer trilhos e estradas e escolher opções de diálogos. Estes últimos são também bastante restritos, e pouco ou nada influenciam desenrolar dos eventos, além de que estas conversas resumem-se em grande medida ao nosso companheiro de aventura, Jacob. Este último é interessante de início, mas rapidamente se torna insuportável com as suas perguntas e curiosidades constantes e que em nada contribuem para aliviar a monotonia instalada.
O jogo encontra-se dividido em segmentos horários, cada hora corresponde a um conjunto de eventos que se irão desencadear. Em alguns momentos é possível escolher um caminho, mas tudo se vai encaminhar para o mesmo desfecho no final do capítulo. O enredo e a forma como este é desenvolvido representam o grande trunfo do jogo, e são equivalentes a contar a história de um filme, pelo que se as opções do jogador alterassem significativamente o enredo a experiência seria completamente diferente. Apesar disso, a dupla Riley e Jacob vai montar ao redor da cidade inúmeros transmissores de rádio capazes de fechar uma fenda num portal de outra dimensão. Esta dimensão está repleta de mistérios e é onde um grupo de sobreviventes vai interferir diretamente com a missão principal. Desde o início que está criado um ambiente rico em segredos e conspirações, tanto evocado pelos diálogos, como presente em alucinações bastante difíceis de decifrar e de contextualizar.
É esta camada de incógnitas que prende o jogador ao comando para decifrar o que realmente está a acontecer naquela cidade fantasma. Mais importante, quais os acontecimentos passados que antecedem esta história. Observando em retrospetiva, é muito linear, mas só o compreendemos perto do final, o que cria uma falsa ilusão de uma complexidade que não existe na realidade, mesmo que seja muito interessante ir chegando a essa conclusão, um passo de cada vez. Mesmo o desfecho fica um pouco aquém por não dar uma impressão clara de resolução, ficando por isso ao critério da escolha do jogador qual é o ‘verdadeiro’ final de Oxenfree II. Devido à dimensão compacta desta obra é ideal para ser jogado no ecrã da Switch, o que dáa um impressão semelhante de se jogar uma “visual novel”. O último destaque vai para a banda sonora bastante imersiva e condizente com o ambiente sobrenatural aqui presente.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Enredo repleto de elementos a decifrar e interpretar
- Agarra a atenção do jogador
- Ambiente sobrenatural e misterioso
- Banda sonora à altura
Pontos negativos
- Jogabilidade repetitiva pode tornar-se desinteressante
- Diálogos nem sempre cativantes
- Falta de opções para desenvolver o enredo
- Percurso pode ser entediante
Entusiasta do mundo da Big N desde os tempos da Wii. Incontornável fã das plataformas de Mario à imersão de Metroid, da aventura de Zelda à estrategia de Pikmin, dispensando apenas a tranquilidade de Animal Crossing.