Lil Gator Game – Análise
Lil Gator Game é um jogo de aventura e exploração que segue uma abordagem muito simples e descontraída, mas que também traz consigo uma mensagem comovedora e surpreendente. Este trabalho da MegaWobble e que chega a nós pela Playtonic (uma boa indicação) é um jogo que muito facilmente cativa o coração de qualquer jogador, criança ou adulto, graças à sua apresentação, escrita e narração, e a uma jogabilidade muitíssimo acessível.
Desde o início que Lil Gator Game nos mostra o elemento mais importante da sua alma: a imaginação das crianças, e como ela nos pode fazer viver as experiências mais extraordinárias. O protagonista é uma criança jacaré que adora brincar com a sua irmã mais velha. Juntos partem em aventuras inspiradas na série Zelda e facilitadas pelo trabalho da irmã, que coloca inimigos feitos de cartão ao longo de um parque e improvisa buscas épicas para que o pequeno jacaré se sinta como o herói dos seus videojogos favoritos. As referências a Zelda estão por todo o lado, desde o mundo aberto à indumentária e equipamento do protagonista e às conversas entre este e a irmã sobre o seu jogos favorito.
Quando a irmã começa os seus estudos (para se tornar “designer” de videojogos, sem surpresa), o pequeno jacaré perde a sua grande parceira de brincadeiras. Lil Gator Game inicia-se num dia em que a irmã está de visita durante a pausa letiva de outono. Isto enche o pequeno jacaré de entusiasmo na expectativa de voltar a brincar com a irmã como dantes, mas quando esta vê a sua atenção monopolizada por um trabalho para a faculdade, o protagonista não se dá por vencido: com os seus amigos, todos eles animais antropomorfizados, vão criar um jogo de dimensões monumentais, com inimigos de cartão por todo o lado e dezenas de missões para o herói resolver, tudo com o objetivo de impressionar a irmã para que esta ponha o seu trabalho de parte e se junte à aventura.
Do princípio ao fim, Lil Gator Game transmite que tudo o que decorre é um jogo entre crianças onde a imaginação é fundamental. Por isso não há qualquer perigo para o nosso herói – não sofre danos, não há inimigos reais, não há cansaço, nem pressão. Vamos percorrer uma ilha com montanhas, rios, cavernas, bosques e praias em busca das dezenas de personagens que precisam da ajuda do herói – ou duas ilhas, para sermos mais exatos, uma mais pequena que funciona como tutorial, e outra de maiores dimensões. Cada personagem ajudada recompensa-nos com confettis (moeda utilizada no jogo) e junta-se ao grupo num parque infantil que se encontra no centro da ilha. Quantas mais personagens ajudarmos e recrutarmos, mais vão participar na construção de um mundo de aventuras no parque, e cada personagem que conhecemos tem uma personalidade marcadamente distinta, com as suas preferências, inseguranças e artimanhas. Mais uma nota muitíssimo positiva para a escrita, é sempre um prazer descobrir o que a próxima criatura tem para nos dizer e o sentido de humor patente nos diálogos é uma delícia.
Temos também acesso a objetos novos, como armas, escudos, chapéus e acessórios, que podem ser adquiridos se tivermos confettis suficientes. Muitos objetos têm apenas funções estéticas, outros dão um toque adicional à experiência – o trampolim permite-nos saltar mais alto, enquanto a bandana inspirada em Naruto permite correr mais depressa. A ação decorre num mundo completamente aberto, onde podemos desempenhar as tarefas pela ordem que quisermos e não há qualquer penalização. Lil Gator Game é curto – a campanha principal termina-se em menos de quatro horas – mas a falta de um mapa ou lista de tarefas significa que podemos perder o rumo se fizermos uma pausa de alguns dias. Não é grave, a ilha não é grande, mas uma forma de consultar as missões não seria má ideia. Missões essas que incluem vencer inimigos de cartão, encontrar objetos perdidos, ajudar amigos a vencer os seus medos, ou até comprar um gelado para uma vampira (com dinheiro real, o que leva a um dos momentos mais cómicos do jogo). Destaque também para uma missão onde uma das personagens, um pato pouco falador, é posta no banco dos réus pelo nosso protagonista, numa referência adorável a L.A. Noire e à série Phoenix Wright. Todas estas missões desempenham-se bastante rapidamente, e facilmente podemos cumprir uma série delas em pouco tempo, o que aliado à quantidade de personagens, monstros e confettis a descobrir, significa que Lil Gator Game agarra-nos a atenção com muita facilidade, e o tempo passa bastante depressa.
Se a alma de Lil Gator Game é rica em experiências que têm tanto de cómico como de emotivo para quem reconhece o valor da imaginação, a sua apresentação não fica atrás. Com um cenário outonal cheio de árvores de folhas amarelas e vermelhas, o recurso ao “cel shading” e a cores vivas assenta que nem uma luva ao tema e a animais antropomórficos a brincar ao faz de conta. O jogo também se porta bem do ponto de vista do desempenho, ainda que ocasionalmente se notem algumas perdas de fluidez. A banda sonora é igualmente uma parceira indissociável e capta perfeitamente o espírito de uma aventura descontraída. Há um tema dominante em quase toda a ilha e assume um tom distinto consoante o local, enquanto os efeitos sonoros podem não ser o que mais sobressai, mas cumprem o seu propósito. Também os controlos foram bem implementados e funcionam (quase) sempre bem, embora em alguns momentos a câmara fique presa atrás de um objeto. Lil Gator Game também é rico em opções de personalização – desde os idiomas, que incluem português do Brasil, à opção “speed run” que torna o jogo amigo dos corredores, foram incluídas dezenas de parâmetros para personalizar a experiência. Até o nome do protagonista pode ser alterado quando quisermos.
Se a experiência é curta, a conclusão é inesquecível. O final do jogo – ou melhor dito, do objetivo de construir a cidadezinha para as aventuras – leva-nos a um olhar inesperado sobre a relação do protagonista com a irmã que dificilmente deixa alguém indiferente. Mais uma vez, a escrita, a narração, e a apresentação estão de parabéns, e Lil Gator Game mostra-nos que embora a jogabilidade seja simples, o seu conteúdo é muitíssimo apelativo. Uma vez concluído o seu grande objetivo, é possível localizar os últimos amigos com quem não nos cruzámos, e descobrir os últimos inimigos e objetos por destruir, desta vez com ajuda extra para os encontrarmos mais rapidamente e completarmos o jogo. Mais uma nota positiva para a equipa da MegaWobble, que sabe muito bem o que faz.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Escrita, narração e mensagem surpreendentes
- Apresentação audiovisual impecável
- Jogabilidade simples e muitíssimo acessível
Pontos negativos
- Sem forma de recapitular os objetivos
Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.