Prince of Persia: The Lost Crown – Análise
Prince of Persia é um nome emblemático na indústria dos videojogos, graças a uma estreia de sucesso irrepreensível no início da década de 1990 com um jogo de plataformas e de ação cuja jogabilidade e animações captaram a curiosidade de uma geração de jogadores. Com a entrada da Ubisoft na série, testemunhamos uma transformação significativa e a transição de um jogo de plataformas para se tornar no que conhecemos atualmente: jogos de ação e aventura envolventes na terceira pessoa. Esta evolução trouxe uma popularidade notável e inúmeros jogos, “spin-offs”, e até uma adaptação cinematográfica.
Depois de uma interrupção de vários anos, o plano da Ubisoft para resgatar a “coroa perdida” da série Prince of Persia foi recebido com entusiasmo. A abordagem aqui presente visa um regresso às origens, adotando um estilo de plataformas em duas dimensões. No entanto, não se trata apenas de uma viagem nostálgica ao passado mas sim de uma reinvenção que incorpora um legado com décadas e opta por seguir as mecânicas de um “metroidvania”, o que traz um nível de complexidade e exploração adicional ao jogo que lhe permite refletir melhor os padrões contemporâneos.
Prince of Persia: The Lost Crown decorre no reino da Pérsia que se encontra protegido por um grupo de guerreiros de elite conhecido como “The Immortals“. O rapto do príncipe lança o nosso grupo numa missão de resgate até ao mítico monte Qaf e à sua cidade antiga, um lugar misterioso onde o tempo não segue o seu rumo habitual e onde as linhas cronológicas se cruzam. A nossa personagem é Sargon, um jovem membro do grupo caracterizado pela sua agilidade e por manusear duas espadas. Desde logo somos surpreendidos pelo ênfase dado ao enredo e às personagens: se de início tudo parecia extremamente linear, depressa percebemos o enorme destaque que o enredo vai receber ao longo da aventura, com inúmeras surpresas e capacidade de abordar cada personagem de forma profunda. Tratando-se de uma jogabilidade baseada num “metroidvania”, é comum revisitar os mesmos locais e com isto tornar a aventura algo repetitiva e com a sensação de uma longevidade forçada. O ênfase colocado no enredo permite mitigar esta sensação, e torna o jogo interessante até ao último minuto ao longo das mais de vinte horas que The Lost Crown oferece na sua vertente principal, além das múltiplas missões secundárias. Podemos seguir uma abordagem mais direta, mas há bons motivos para explorar mais e cumprir as missões secundárias, onde se inclui procurar pelos medalhões que quando utilizados dão capacidades especiais ao nosso protagonista. O número de capacidades que podemos desenvolver é limitado, o que dá ao jogo de uma vertente estratégica interessante e que permite personalizar a experiência. Ao longo da aventura também desbloqueamos poderes que nos permitem manipular o tempo, com efeitos na deslocação e combate do protagonista.
O combate é bastante direto e acessível, bastando premir os botões frequentemente e desviarmo-nos dos ataques inimigos. Se escolhermos um nível de dificuldade mais equilibrado vamos ter combates verdadeiramente emocionantes, onde temos de antecipar os movimentos dos inimigos, prever os seus padrões de ataque, e adaptar a nossa estratégia a cada momento. E mesmo que se veja o temido ecrã de “Game Over” demasiadas vezes, o jogo nunca se torna demasiado frustrante e motiva-nos a tentar mais e mais vezes até vencermos cada “boss”. Alem dos ataques diretos existem habilidades especiais que desbloqueamos ao longo do jogo usando a energia de Athra. Juntamente com a variedade de inimigos, temos aqui uma experiência bastante positiva, que para muito contribui uma mecânica de jogabilidade extremamente bem implementada e que se destaca na exploração. Embora os níveis sejam labirínticos e com secções bastante exigentes, a jogabilidade simples, intuitiva, e bem implementada permite percorrer os espaços de forma cativante. Algumas zonas exigem resolver um quebra-cabeças para avançar, estes são inteligentes e desafiantes, e apresentam uma mudança bem-vinda ao ritmo do jogo.
Tudo isto decorre de forma fluida e bem executada, graças sobretudo a um “patch” disponibilizado no lançamento do jogo e que recomendamos vivamente a instalar para que a experiência seja o mais estável possível. Visualmente trata-se de um jogo belíssimo, os níveis apresentam-se cheios de pormenor ao longo de treze biomas distintos. É possível ver vários elementos de jogos anteriores da série, o que é um bónus muito bem-vindo para os seguidores de longa data. Ao mesmo tempo, The Lost Crown é um excelente ponto de partida para quem não tem experiência com a série, ou procura uma proposta de qualidade com as características de um “metroidvania”. O enredo avança através de dioramas e de algumas sequências cinemáticas que mantêm a qualidade padrão do jogo. A narração e vocalização poderiam ter recebido um investimento maior, mas traduzem bastante bem o sentimento do enredo, embora fique qualitativamente uns pontos atrás da globalidade do trabalho audiovisual aqui presente. Os mapas estão cheios de pormenores e ganham vida num ecrã de televisão, embora alguns elementos apresentem tamanhos menos adequados quando jogado no ecrã da Switch, principalmente na Switch Lite. Nada de muito problemático, mas que poderia ter sido precavido. O jogo faz um excelente uso da versatilidade da Switch, e a experiência pode ser desfrutada tanto em momentos breves como em sessões mais longas. Esta versatilidade é possível graças ao ritmo do jogo, que permite uma experiência envolvente a qualquer momento. O nivel de desafio é elevado, mas pode ser adaptado a um público menos experiente com um nível de dificuldade mais reduzido durante o combate, e com o recurso a marcadores adicionais e indicação da localização do próximo objetivo no mapa, é opcional mas alarga o jogo a um leque maior de jogadores.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Jogabilidade "metroidvania" bem implementada
- Ênfase forte no enredo
- Intuitivo e com um desafio personalizável
Pontos negativos
- Alguns elementos difíceis de observar no ecrã da Switch
- Trabalho de narração poderia ser melhor
Após passar grande parte da sua infância em Hyrule e no Mushroom Kingdom dedica-se agora a explorar o vasto universo digital que o rodeia. Embora seja entusiasta de novos títulos é possível encontrá-lo frequentemente a revisitar os clássicos.