Análises

Endless Ocean Luminous – Análise

À medida que o ciclo de vida da Nintendo Switch se aproxima do fim começam a priorizar-se relançamentos e títulos de impacto menos significativo. Seguindo esta via, foi recuperada outra de tantas séries que se julgavam esquecidas e que chega agora à Switch sob a forma de Endless Ocean Luminous, terceiro jogo na série que se estreou na Wii em 2007. Esta obra foi anunciada no início do ano e é uma produção do estúdio Arika, conhecido por Tetris 99 e Pac-Man 99, e distribuída pela própria Nintendo.

Um vislumbre rápido por Endless Ocean Luminous leva o jogador a pensar que se trata de mais uma experiência ao nível de Subnautica ou Abzu. Isto não podia estar mais longe da verdade, já que enquanto o primeiro se encaixa numa experiência de sobrevivência com um sistema de “crafting” robusto, o segundo é uma experiência sensorial quase cinemática. Já o jogo aqui visado apenas tem em comum a ambientação do fundo do mar e exploração. Trata-se de uma abordagem mais simples em todos os aspectos possíveis. Seja intencional ou não, Endless Ocean Luminous faz lembrar aqueles jogos educativos interativos e/ou de consciencialização de alguma causa, neste caso a preservação da vida marinha. Se a Arika tivesse ido a fundo nesta abordagem alguns dos problemas aqui presentes seriam menos criticáveis, afinal trata-se de um videojogo onde o mais importante é a jogabilidade e o que se pode ou não fazer no cenário aqui simulado.

O jogo apresenta modalidades que nos permitem fazer coisas diferentes, ainda que na prática a experiência seja a mesma. Começando pela campanha, aqui dividida em meia dúzia de capítulos, cada um repartido em alguns atos. Serve também de tutorial para as mecânicas transversais que vamos aplicar ao longo da nossa jornada no misterioso oceano Veiled. Movimentamo-nos num espaço 3D com uma única opção de movimentação mais rápida. No que diz respeito à interação, só podemos catalogar as criaturas marinhas (cerca de meio milhar) que vemos ao nosso redor através de um dispositivo próprio ou apanhar alguns objetos caricatos que foram perdidos no fundo do oceano. E é isto, embora o leque se alargue um pouco em multijogador, mas já lá iremos. Antes de avançar, o jogo visualmente não encanta, mesmo num ambiente onde se é possível dar asas à criatividade nas cores e terreno, a impressão que fica é mínima neste departamento.

Neste modo de campanha temos a companhia de Sera, a IA de serviço que nos dá todo o tipo de informações e dicas sobre como navegar e avaliar o que surge diante de nós. Temos ainda Daniel, outro mergulhador, que serve apenas para trocar algumas falas com a nossa personagem e aparece ocasionalmente no enredo. Enredo esse que tenta vender-nos um mistério maior sobre algo que se esconde e mexe com o mundo aquático de Veiled, mas não passa de uma miragem, pois não há qualquer complexidade ou aprofundamento desse mistério, serve apenas para aliciar o jogador a completar todo o (curto) modo de campanha, e acaba por desiludir. A essência desta experiência na Nintendo Switch é baseada em registar as criaturas marinhas, é isto que fazemos 99% do tempo: prime-se um botão por um terminado período de tempo e o nosso dispositivo analisa todas as espécies que se encontram ao seu alcance e dá-nos um perfil simples das criaturas nas proximidades, mas nada de muito extenso. Ainda que ao longe, esta experiência aproxima Endless Ocean Luminous à série Pokémon Snap.

No modo de mergulho a solo (quase) tudo se mantém igual, a única diferença é que não temos objetivos para cumprir e somos livres para explorar, a cada mergulho somos colocados numa região diferente ainda que isso não mude substancialmente nada, exceto a nível das criaturas que podemos ou não localizar. O jogo tem um sistema bastante modesto de moeda que nos permite adquirir opções cosméticas, como mudar as cores do fato e autocolantes. Esta moeda pode ser obtida à medida que registamos mais espécies novas e raras. Quando jogado online (vertente usada na promoção do jogo como o seu principal chamariz) podemos juntar-nos até outros vinte e nove jogadores num mergulho conjunto. É aqui que o leque de opções se abre um pouco, podemos marcar pontos de interesse em locais ou animais para que outros jogadores saibam da sua localização, e podemos ainda fazer alguns “emotes” engraçados ou que expressam algum tipo de sensação, como surpresa ao encontrar uma espécie nova, por exemplo.

E é praticamente só isto que Endless Ocean Luminous tem. É uma experiência modesta, para dizer o mínimo, ficando atrás dos seus congéneres de exploração marinha, tanto no que oferece como na forma como o faz. Se pode ser uma experiência positiva para quem procura algo relaxante, onde a música serena e a variedade da fauna e flora marinha ajudam, por outro lado a ausência total de urgência ou de ameaça tira qualquer aproveitamento para quem procure um videojogo em moldes habituais. Em momento algum surge uma mecânica capaz de alargar as possibilidades, como uma arma de atordoamento para afastar criaturas mais perigosas como tubarões ou orcas, ou um limite de oxigénio para gerir e conservar consoante a profundidade, mas não, não se encontra nada disso aqui. Em pouco tempo e em qualquer modo de jogo conhecemos tudo o que aqui está, o usufruto de Endless Ocean Luminous depende se o jogador gostar desta abordagem e experiência.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
4 10 0 1
Endless Ocean Luminous traz uma experiência bastante simples e repetitiva baseada na exploração e catalogação de uma infinidade de espécies marinhas. Se por um lado atrai quem procura uma jornada descontraída para desfrutar da observação e imersão num ambiente aquático, por outro afasta quem procura um jogo nos moldes convencionais com um sistema de progressão robusto, objetivos quantificáveis, e complexidade nas interações.
Endless Ocean Luminous traz uma experiência bastante simples e repetitiva baseada na exploração e catalogação de uma infinidade de espécies marinhas. Se por um lado atrai quem procura uma jornada descontraída para desfrutar da observação e imersão num ambiente aquático, por outro afasta quem procura um jogo nos moldes convencionais com um sistema de progressão robusto, objetivos quantificáveis, e complexidade nas interações.
4/10
Total Score

Pontos positivos

  • Experiência descontraída
  • Música contribui para a ambientação
  • Possibilidades de partilha online

Pontos negativos

  • Modo de campanha redundante e pouco apelativo
  • Novidade esgota-se rapidamente
  • Falta de sentido de urgência ou perigo
  • Opções de movimentação e interação muito limitadas
  • Sistema de recompensas e avanço pouco ambiciosos

João Pedro

Entusiasta do mundo da Big N desde os tempos da Wii. Incontornável fã das plataformas de Mario à imersão de Metroid, da aventura de Zelda à estrategia de Pikmin, dispensando apenas a tranquilidade de Animal Crossing.