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Paper Mario: The Thousand Year Door – Análise

O número de “remakes” e conversões de jogos das gerações anteriores para a Nintendo Switch é impressionante e já ultrapassa as três dezenas, isto apenas em jogos publicados pela Nintendo. Paper Mario: The Thousand Year Door junta-se agora a essa lista. Esta produção da Intelligent Systems estreou-se na GameCube em 2004 como sequela de Paper Mario, o jogo inaugural da série que chegou à Nintendo 64 em 2000 e que foi o sucessor de Super Mario RPG. O caminho seguido acabou por ser diferente do clássico de SNES (também ele alvo de um “remake” recente). Se não na jogabilidade – trata-se, de facto, de um RPG com muitos dos seus elementos típicos – pelo menos no seu formato. A série Paper Mario é conhecida por apresentar um mundo de uma forma bastante diferente dos seus pares, onde as personagens e os cenários são representados por uma estética baseada em folhas de papel, dando-lhes o aspeto de um universo de cartão, quase como se estivéssemos perante uma forma específica de animação enquanto desempenhamos as ações habituais de um RPG, como explorar novos locais, falar com personagens, organizar os nossos itens, realizar ataques (por turnos), etc., bem como ações específicas que só uma folha de papel pode fazer.

Paper Mario: The Thousand Year Door assenta que nem uma luva numa filosofia específica da Nintendo no que diz respeito à criação de RPGs no universo Super Mario. Donos de uma direção artística única e inconfundível – as personagens mais do que conhecidas do universo Super Mario têm os seus próprios desenhos distintos em Paper Mario – tratam-se de jogos que juntam elementos do universo Mario a uma dose de humor irresistível e auto-consciente que é quase impossível de imaginar noutros jogos com o nome Mario, e The Thousand Year Door é o que melhor encaixa nas características de um RPG antes de a direção ter seguido no sentido de incorporar mais elementos de ação e plataformas em Super Paper Mario para a Wii em 2007.

Sim, a série Paper Mario é provavelmente a que se leva menos a sério no universo Mario, e isto é muito bem-vindo, já que dificilmente se pode imaginar um RPG baseado no universo Super Mario a seguir um enredo como os da série Final Fantasy, por exemplo. Com um rol de personagens idiossincráticas mas que se destacam sempre pela dimensão cómica e absurda, desde mafiosos desconfiados a indivíduos que se querem aproveitar de Mario, e uma quantidade de momentos em que o próprio jogo parece estar a dirigir-se diretamente ao jogador como se estivesse a comentar o panorama dos videojogos, The Thousand Year Door é uma maravilha cheia de personagens inesquecíveis. Esta característica indissociável de Paper Mario anda de mãos dadas com a sua jogabilidade. The Thousand Year Door tem um dos melhores sistemas de combate num RPG da Nintendo, onde somos incentivados não só a realizar o habitual (atacar, defender, usar itens e movimentos especiais) como ainda temos de ter em conta a qualidade do nosso desempenho e as recompensas que daí advêm, se o público está ou não satisfeito (em The Thousand Year Door, os combates têm público), se há elementos hostis entre o público que precisam de ser expulsos antes que nos atinjam, ou no caso de os nossos ataques falharem, se podemos vencer os nossos inimigos graças a uma defesa particularmente dura, tudo depende da habilidade do jogador. Como em qualquer RPG que se preze, ganhamos pontos de experiência e as nossas capacidades desenvolvem-se à medida que combatemos com inimigos mais poderosos.

A técnica de pressionar um botão no momento preciso do nosso ataque – e no ataque do inimigo – foi muito bem-vinda em Super Mario RPG, e também contribui para fazer dos combates em The Thousand Year Door momentos mais empolgantes onde a nossa habilidade e reflexos são postos à prova num meio onde normalmente isso não seria de esperar, mas esta é outra demonstração da originalidade dos RPGs do universo Mario. O elenco de personagens também é nada menos do que inesquecível – Mario começa por se aliar com Goombella, uma estudante Goomba que Mario salva quando está a ser atacada por um bando no primeiro local que exploramos, a cidade pouco recomendável de Rogueport, onde Mario se desloca para se juntar a Peach quando esta se encontra à procura de um tesouro. O elenco alarga-se à medida que avançamos e a nossa equipa chega a atingir oito membros, aos quais se juntam Peach e Bowser em alguns momentos. Cada membro da equipa tem as suas próprias habilidades – Goombella dá-nos informações e dicas sobre as personagens que encontramos e os sítios que exploramos, enquanto Koops, um Koopa Troopa muito tímido com problemas de autoestima, pode ativar interruptores e atingir inimigos com uma carapaça; já Vivian consegue esconder Mario na sombra para podermos passar despercebidos e ouvir conversas, enquanto o Almirante Bobbery, um velho marinheiro Bob-Omb, pode fazer explodir paredes que estejam danificadas. Uma amostra da grupeta que vai acompanhar Mario ao longo de oito capítulos e obter as sete Crystal Stars, numa experiência que facilmente ultrapassa as trinta horas de jogo. A ajudar à nossa exploração encontram-se também as ‘maldições’, rogadas por inimigos mas que acabam por ser contribuições fundamentais para a aventura, como a capacidade de Mario se transformar num avião de papel, num barco de papel, ou de se esgueirar entre barras quando nos encontramos bloqueados – ou não fosse esta a série Paper Mario.

Apresentado que está o jogo, o que dizer então do trabalho de conversão de uma obra de 2004 para a Nintendo Switch?  Se é verdade que o ambiente visual não pretende ser revolucionário, é impossível não elogiar a direção artística belíssima, o uso das cores vivas, as personagens facilmente reconhecíveis do universo Mario mas todas com as suas próprias particularidades que as tornam únicas neste contexto, bem como o desenho dos cenários e das personagens à semelhança de folhas de papel. Além da óbvia mudança na resolução, as texturas são muito mais suaves nesta versão para a Switch, e as superfícies e contornos têm aqui um aspeto mais cuidado, enquanto as personagens são bastante mais expressivas ao nível do rosto. Por outro lado, o desempenho é de trinta fotogramas por segundo, comparado com os sessenta do original, mas num jogo como este acaba por ser uma diferença menor. Nota de destaque também para a banda sonora, que recebeu um novo tratamento, enquanto a banda sonora original pode ser ouvida na galeria do jogo. Outro destaque pela positiva vai também para a inclusão de novas possibilidades de viajar rapidamente de um ponto a outro do mapa, algo que é sempre bem-vindo quando pegamos numa conversão de um jogo de gerações anteriores. Pela negativa deve indicar-se apenas, a nível da acessibilidade, a falta de tradução para português quando o jogo se encontra disponível em nove línguas diferentes, algo que pode afastar os jogadores mais novos.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
9 10 0 1
Se The Thousand Year Door é um jogo muito apreciado na GameCube, este “remake” faz um excelente trabalho em manter o que já era belíssimo no original e atualizá-lo para o que o público de hoje espera. Pode não trazer mudanças significativas a nível da jogabilidade, mas o tratamento dado ao ambiente visual, banda sonora, os poucos toques dados à forma de jogar – mas bem-vindos – enquanto o enredo e as personagens se mantêm intactas fazem desta obra um exemplo a seguir no que diz respeito a como realizar um excelente “remake”. Impossível não o recomendar a qualquer pessoa que goste do universo Mario e a fãs de RPGs que gostem de variedade.
Se The Thousand Year Door é um jogo muito apreciado na GameCube, este “remake” faz um excelente trabalho em manter o que já era belíssimo no original e atualizá-lo para o que o público de hoje espera. Pode não trazer mudanças significativas a nível da jogabilidade, mas o tratamento dado ao ambiente visual, banda sonora, os poucos toques dados à forma de jogar – mas bem-vindos – enquanto o enredo e as personagens se mantêm intactas fazem desta obra um exemplo a seguir no que diz respeito a como realizar um excelente “remake”. Impossível não o recomendar a qualquer pessoa que goste do universo Mario e a fãs de RPGs que gostem de variedade.
9/10
Total Score

Pontos positivos

  • Excelente trabalho de conversão
  • Sistema de combate continua fantástico
  • Enredo e personagens inesquecíveis

Pontos negativos

  • Falta de tradução para português
  • Acrescenta pouco à experiência

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.