Romance of the Three Kingdoms 8 Remake – Análise
A série Romance of the Three Kingdoms é um nome incontornável entre os RPGs de estratégia. Já passaram quase quarenta anos desde a sua estreia no Famicom em 1985, e o número de jogos da série principal vai em quinze, sem contar com os “spin-offs” onde se inclui a série Dynasty Warriors. A obra da Koei foi buscar o título e a inspiração ao romance histórico chinês do mesmo nome publicado no século XIV e baseado nos eventos de um período da história chinesa entre o final do século II e o final do século III da nossa era, período esse rico em conflitos violentíssimos e intrigas múltiplas entre fações rivais.
A obra literária constitui um património cultural muitíssimo popular no Extremo Oriente com adaptações múltiplas e conta com uma merecida legião de fãs a oriente e a ocidente. Romance of the Three Kingdoms 8 Remake traz-nos uma versão contemporânea de um jogo que se estreou no PC em 2001. O resultado é uma obra que nos agarra nos bons e maus momentos, e que nos leva a investir muitas horas quase sem darmos por isso e com mais opções do que o comum dos mortais consegue contar. Indo além de um jogo onde apenas temos de combater e tratar de recursos, aqui vamos ter de pôr as mãos em praticamente todos os aspetos que fazem parte do percurso de uma personagem saída da era dos Três Reinos. Logo aqui temos uma panóplia de escolhas no que diz respeito a quem vamos encarnar, e que vão desde um subalterno ao regente de uma província, todos com as suas responsabilidades próprias. O jogo não só permite-nos escolher entre 1000 (sim, mil!) oficiais existentes com características para todos os gostos como também podemos criar a nossa própria personagem.
Para os mais iniciados, recomenda-se fortemente não só começar o jogo com a assistência do tutorial, necessária para nos orientarmos entre as opções intermináveis, como também escolher uma personagem numa posição mais subalterna, o que nos dá uma noção mais clara do que devemos fazer. Um jogador menos experiente que jogue com uma personagem de uma posição hierárquica mais elevada corre um forte risco de sofrer uma derrota estrondosa bem cedo. Além disso, ao iniciarmos o jogo no papel de um oficial subalterno vamos ser promovidos ao longo da experiência, o que nos permite uma ambientação mais proporcional e estruturada. Com um pouco de assistência (bem-vinda, mas não demasiado omnipresente) compreendemos o nosso papel e ambientamo-nos bastante bem às nossas funções, que incluem ações habituais como aumentar a produção agrícola, investir no desenvolvimento científico, reforçar a segurança da cidade, manter a ordem pública, e espiar fações inimigas. É muito importante não perder a noção do que está a acontecer dentro das muralhas para evitar problemas internos e externos – por exemplo, se visitarmos a taverna podemos ajudar os habitantes nas suas necessidades e ganhar pontos de reputação. Não menos importante é o desenvolvimento de relações com outros oficiais e que se conseguem através de interações regulares. Estas incluem membros da família da nossa personagem, como a mulher, o marido ou irmãos, e é até possível à nossa personagem casar-se com alguém com quem desenvolveu uma relação próxima. Quanto melhores estas relações forem, melhores resultados nos vão trazer, incluindo nos combates, onde uma boa relação com outro oficial permite usar ataques combinados. Sendo este um jogo de estratégia por turnos, estas ações do quotidiano não são ilimitadas e dependem dos nossos pontos de ação.
Estas funções formam uma parte da componente de gestão do jogo, a outra consiste nas reuniões periódicas do conselho onde – se jogarmos num papel mais subalterno – vamos receber indicações e apresentar os nossos resultados aos superiores. É também nestas reuniões que por vezes se torna necessário convencer os membros do conselho sobre as nossas opções caso estas não sejam consensuais, o que implica debates sob a forma de um sistema de combate onde as ações têm um número correspondente e vamos ter de as jogar por ordem numérica ou empregar ações com o o mesmo número. Isto é igualmente válido para os duelos que acontecem durante os combates e requer um certo cuidado da nossa parte para não ficarmos sem as melhores ações logo no início, o que com adversários mais poderosos pode ser uma experiência frustrante.
Apesar de à primeira vista tudo isto ter um ar intimidante para quem está a dar os primeiros passos na série, o jogo flui com bastante normalidade assim que aprendemos o nosso papel e depois de um pouco de tentativa e erro. Podemos também jogar numa série de cenários que correspondem a momentos específicos na história dos Três Reinos e onde temos uma missão mais simples, mas nem por isso fácil. Como não podia deixar de ser, os combates também fazem parte da experiência e entram em cena quando tentamos expandir o nosso território ou somos atacados por outra fação. Os combates, também eles por turnos, decorrem num ambiente visual convencional e num terreno dividido em hexágonos, onde o nosso trabalho de gestão e cultivo de relações vai dar frutos (ou talvez não…). É recomendável escolher de forma sensata os oficiais que nos vão acompanhar, já que as sugestões do jogo nem sempre se adequam ao que acontece no terreno, mas o combate propriamente dito é acessível embora isso não signifique que seja um passeio, já que podemos ser surpreendidos pelos reforços do inimigo ou sofrer reveses desagradáveis devido às armadilhas.
Posto tudo isto, resta saber como decorre a experiência a nível audiovisual e da interatividade. Felizmente Romance of the Three Kingdoms 8 Remake tem um desempenho bastante satisfatório nestas dimensões. A direção artística ao nível das personagens encontra-se muito bem conseguida, e os principais intervenientes quase podiam ter saído de um livro de ilustrações. As cidades, mapas e terrenos de combate foram alvo de um trabalho bastante aprazível no que diz respeito aos desenhos, pormenores e cores. A banda sonora – à escolha entre a original e uma nova versão orquestral – apresenta composições que encaixam muito bem no tema do jogo, embora inevitavelmente se tornem repetitivas quando passamos bastante tempo nas mesmas tarefas. As personagens têm vocalizações apenas em japonês nas interações e diálogos, do ponto de vista da imersão talvez fizesse sentido incluir vocalizações em chinês. Já o texto encontra-se disponível apenas em inglês, o que vai limitar a experiência para os jogadores mais novos. A interação com os (muitos) menus e pontos de ação encontra-se bem organizada, embora seja mais simpática com os nossos olhos se decorrer num ecrã de televisão do que no ecrã da Switch. Como não podia deixar de ser, à medida que avançamos no jogo obtemos uma série de recompensas onde se inclui a possibilidade de rever sequências cinemáticas, o que contribui para o lado épico desta obra.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Enredo bastante rico
- Quantidade colossal de opções
- Sentido de progressão
Pontos negativos
- Pode ser intimidante para os novatos
- Falta de traduções em mais idiomas
Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.