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Donkey Kong Country Returns HD – Análise

No ano passado cumpriram-se trinta anos desde a estreia de Donkey Kong Country e se é verdade que passado todo este tempo, um jogo de plataformas em 2D já não tem a capacidade de nos deixar embasbacados, isso não significa que obras como esta não sejam bem-vindas. Para sermos mais exatos, este Donkey Kong Country Returns HD é um “remaster” de um jogo que estreou na Wii em 2010 e que foi devidamente tratado para este lançamento na Nintendo Switch. Pelo caminho ainda houve uma conversão para a 3DS em 2013 que contou com oito níveis adicionais, também aqui presentes. Donkey Kong Country Returns HD é assim uma conversão moderna do original para a Wii, com os oito níveis adicionais que se encontram na 3DS. Temos ainda um modo de jogo mais acessível a jogadores menos experientes e que nos dá três corações de vida em vez de dois. O trabalho de conversão ficou a cargo do estúdio polaco Forever Entertainment, que já conta com muitas dezenas de jogos para a Switch.

Se costumamos dizer que os jogos da série Super Mario apresentam um enredo mínimo, então os jogos da série Donkey Kong Country são ainda menos abonados neste domínio. Não que isso tenha grande importância, claro. Depois de uma erupção vulcânica na ilha de Donkey Kong, a Tribo Tiki Tak emerge dos detritos e hipnotiza os animais da ilha com a sua música (os combates com os “bosses” apresentam todos uma relação com instrumentos musicais), obrigando-os a trazer-lhes as bananas que naturalmente pertencem a Donkey Kong, mas o feitiço não funciona com Donkey e Diddy Kong. E pronto, os nossos heróis têm tudo o que é necessário para partir à aventura. DKC Returns HD nem sequer tem diálogos e a única personagem com várias linhas de texto atribuídas é Cranky Kong, que nos vende alguns artigos importantes e nos deixa dicas com as habituais críticas jocosas, além disso conta-se uma outra recomendação do Professor Chops mas a maioria é feita através de pistas visuais. Com o muito pouco texto que o jogo apresenta, por outro lado, não se percebe porque não foi traduzido para português.

A jogabilidade segue as convenções habituais da série Donkey Kong Country. Destreza, capacidade de observação e reflexos rápidos são as qualidades fundamentais para percorrer os nove mundos, cada um com um tema diferente, mas facilmente enquadrados no universo de Donkey Kong onde se incluem uma praia, uma floresta, cavernas, ruínas ou uma fábrica. Vamos saltar, evitar estruturas que desabam, trepar, ultrapassar inimigos de vários tipos que vão de tambores a caranguejos, passando por torpedos, estátuas que desabam e, como não podia deixar de ser, vamos usar muitos barris. Não seria um jogo digno do nome Donkey Kong Country sem barris – estacionários, com movimentos verticais, horizontais e diagonais, de disparo automático ou manual… as secções onde fazemos a dupla DK disparar de um barril para outro são sempre bem-vindas e obrigam-nos a observar o que vamos fazer. As secções em carros de minas são também património de Donkey Kong Country, provavelmente as que nos obrigam aos reflexos mais rápidos em todo o jogo, e que não raras vezes nos vão obrigar a repetir um nível para apanhar um objeto que deixámos passar da primeira vez. Não podemos deixar de mencionar Rambi, o velho amigo rinoceronte que não aparece sempre, mas quando o faz é uma bênção e a sua força bruta leva tudo à frente. Sempre com controlos bem apurados e que, salvo as raríssimas exceções em que ficamos com a impressão que algo falhou, respondem de forma intuitiva ao jogador.

No que diz respeito aos objetos, não há aqui qualquer quebrar das convenções habituais: corações, balões (vidas extra), bananas, cachos de bananas, moedas de bananas, as letras K-O-N-G (apanhar todas as letras em cada nível permite desbloquear um nível adicional em cada mundo) e peças de “puzzle” são os objetos que encontramos ao longo dos níveis. As peças de “puzzle” permitem-nos desbloquear os dioramas de cada mundo, e juntamente com terminar cada mundo e vencer os respetivos “bosses”, também nos permitem desbloquear imagens bastante bonitas (incluindo desenhos iniciais de algumas personagens) e músicas do jogo. Os mais ambiciosos podem ainda tentar desbloquear uma galeria com as sequências cinemáticas do jogo, terminar o jogo no “Mirror Mode” que nos permite jogar todos os níveis de trás para a frente, e no contrarrelógio onde tentamos terminar cada nível o mais depressa possível. Desafios não faltam para um jogo cuja primeira experiência se pode terminar em aproximadamente seis horas. Por sua vez, o modo cooperativo a dois, onde o segundo jogador controla Diddy Kong e pode usar a sua pistola de amendoins, acaba por não ser muito mais do que uma diversão facilmente descartável para os jogadores mais exigentes, mas talvez algo que caia muito bem com os mais novos.

A grande pergunta é então: este “remaster” que traz os conteúdos das versões Wii e 3DS com uma devida atualização audiovisual para o nosso tempo merece um preço de venda de €59,99? A qualidade do jogo não está em causa, tudo o que aqui está é Donkey Kong sem tirar nem pôr – as múltiplas tentativas e erros para apanhar tudo em cada nível, o ambiente visual rico em cores, efeitos de luz e até sombras em alguns níveis, o desenho de personagens cómico e perfeitamente enquadrado no seu mundo, a banda sonora que muitas vezes nos remete para o DKC original de SNES, os combates com “bosses” que não raras vezes assumem proporções colossais… Tal como também estão os momentos em que DK tem de bater no chão para revelar caminhos novos, trepar uma série de paredes, encadear os saltos de forma correta… e os barris e carrinhos de minas, já falámos dos barris e dos carrinhos de minas? Tudo isso está aqui, e a nova roupagem HD assenta-lhe muitíssimo bem. A fórmula nunca se afasta da série Donkey Kong Country. Ao mesmo tempo, o preço é exagerado para quem conheça bem a experiência das duas versões anteriores, sem que traga conteúdo verdadeiramente novo. Quem fizer questão de redescobrir Donkey Kong Country Returns, desta vez na Switch, não vai ter qualquer motivo de queixa. Quem estiver à espera de algo realmente novo além das melhorias cosméticas vai rapidamente perceber que não é esse o objetivo deste jogo. Finalmente, quem não conheça Donkey Kong Country Returns tem aqui a oportunidade de descobrir um belo jogo de plataformas em 2D que hoje em 2025 não realiza algo de extraordinário mas não deixa de ser uma obra bem feita e divertida, perfeitamente alinhada com o que é habitual nestes títulos da Nintendo e merecedor do nome Donkey Kong Country.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
7 10 0 1
Um "remaster" que apesar de não ter a ambição de ir mais longe, faz um trabalho muito bom no que diz respeito a honrar o jogo original. Ambientes audiovisuais ricos e bonitos, níveis divertidos e elaborados, exigentes q. b. mas nunca demasiado impiedosos, e muita motivação para continuar a jogar mais e mais, nem que seja para completar tudo o que é possível, é o que nos propõe Donkey Kong Country Returns HD, ainda que os conhecedores dos dois jogos anteriores devam pensar se o preço de venda é justificado para algo que não traz nada de realmente novo.
Um "remaster" que apesar de não ter a ambição de ir mais longe, faz um trabalho muito bom no que diz respeito a honrar o jogo original. Ambientes audiovisuais ricos e bonitos, níveis divertidos e elaborados, exigentes q. b. mas nunca demasiado impiedosos, e muita motivação para continuar a jogar mais e mais, nem que seja para completar tudo o que é possível, é o que nos propõe Donkey Kong Country Returns HD, ainda que os conhecedores dos dois jogos anteriores devam pensar se o preço de venda é justificado para algo que não traz nada de realmente novo.
7/10
Total Score

Pontos positivos

  • Bom trabalho de conversão
  • Jogabilidade acessível mas desafiante
  • Motivante para continuarmos a jogar

Pontos negativos

  • Traz muito pouco de novo à experiência
  • Preço elevado

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.